Fico a
espreitar a vida;
Como o
gato espreita sua refeição, talvez hoje eu coma uma ave, talvez um rato
suculento e gordo, talvez uma tigela de leite que alguém esquecera a janela;
Talvez
a vida me espreite também, me manipule me faça acreditar e seguir seus
caminhos, me faça esquecer uma tigela de leite na janela;
Fico a
espreitar o espreitador, olho seus movimentos calculados, sua respiração
controlada para não despertar suspeitas, penso que posso ser ele, penso que me
movo como ele;
Não, se
fizeres tal movimento sua refeição será a de outro, não faças assim, assim não
é certo;
Na
verdade acho que sou louco, me sinto a espreitar o espreitador, sigo seus
passos como se fossem os meus, mas ao mesmo tempo me sou tão completo, me faço
de certo;
Sim
daqui de minha varanda observo, penso, vejo as pessoas caminharem, reparo em
cada passo, reparo em cada movimento, como somos tão diferentes;
Casacos,
colares, chapéus, quanta gente moderna fazendo tantas coisas legais, e eu aqui
a espreitar, fumando um cigarro atrás de outro cigarro, me entorpecendo de sono
e monotonia;
Ah,
como queria ser o gato, ou talvez o rato a fugir do gato, qual vida teria mais
emoção?
A minha
com certeza não, não vivo, não respiro ar puro, não trepo;
Respiro
o ar do meu cigarro poluindo o pulmão que me faz respirar, faço sexo com minhas
mãos, não tenho mais emoções;
Sou
critico de mim mesmo, mas não sigo meus conselhos;
Quem
dera eu ser um gato, ou o rato;
Ou a
tigela de leite derramada, um desperdício....
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