Sou
assim, como um pouco de mim;
De
tanto ser eu, já não sei mais de mim;
Flores
roxas, flores rosas, deslumbrantes ou murchas;
Todas
foram plantadas, cheiradas, admiradas e colhidas ao seu tempo;
Em meu
jardim planto as que me agradam o olhar;
Cultivo
as que são mais fracas, dou sombra as que não resistem ao sol, e água a todas
elas;
Meus
passos são leves e delicados ao passeio no jardim, não quero machucar as raízes
que não são vistas;
Já vi
crescer flores belas, de ervas daninhas, de matinhos secos, de corações vazios;
Não
entendendo o sentimento da posse, de não se viver a própria vida e de depender
de alguém para se sentir querido;
De
tanto ser eu, já não sei mais de mim;
Sempre
quis ter uma borboleta, sabe aquele voo leve, quase que sem controle, parece
ser levada com o vento, asas finas, corpo frágil;
Mas sei
que essa fragilidade nasceu de um corpo forte robusto da lagarta feia;
Sempre
quis ter uma borboleta, de tanto ser eu, já não sei mais de mim;
E hoje
em dia sei que preciso de uma lagarta, vou alimenta-la, vou deixa-la livre, vou
regar minhas flores que florescerão novamente, para que lhe sirvam de alimento,
para que ai então, quando se sentir a vontade, quando se sentir livre;
Será o
momento em que mais se isolara do mundo, fara seu casulo para renascer, com
asas leves e corpo frágil, a lagarta de tanto ser ela, já não sabia mais dela;
Era
feia , rastejante e gorda, e agora é a borboleta mais bela;
De
tanto ser eu, já não sei mais de mim;
Meu
jardim esta bem cuidado, minhas flores murcham, as folhas caem, o solo seca,
ervas daninhas crescem, matinhos encobrem as cores;
Mas eu,
que de tanto ser eu, continuo a regar e a colher e a cheirar...
...a
espera da lagarta uma borboleta se transformar.
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